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Episódio 14

Décima Tabuleta Parte 1

O Dilúvio

As trombetas soaram e o alarme disparou!

A hora era chegou e a terra branca estremeceu.

O destino era inalterável! E a Grande Catástrofe se aproximava cada vez mais!

Nos dias que precederam o Dia do Dilúvio, a terra tremia e gemia como se estivesse com dores. À noite, Nibiru brilhava nos céu como se fosse a mais brilhante das estrelas. Então, houve escuridão durante o dia, e à noite a lua parecia ter sido engolida por um monstro.

A terra estremecia com uma força nunca antes sentida. Em Sippar, os anunnaki aguardavam pelo sinal de partida. Estavam todos reunidos. Enquanto isto, em sua morada, Enki adormecera... Foi quando uma visão-sonho o envolveu em mistério e esperança.

Diante dele um homem brilhante e resplandecente como os céus caminhava em sua direção. E na medida em que se aproximava pode ver que aquele era Galzu, o anunnaki de cabelos brancos.

Em sua mão direita segurava um estilete e na mão esquerda uma tabuleta de lápis-lázuli, lisa e brilhante.

Galzu disse: suas acusações contra Enlil são injustificadas, pois ele só dizia a verdade. E a decisão, que como decisão de Enlil ficará conhecida, devo dizer que foi o destino, e não ele quem o fez.

Agora, tome a sorte em suas próprias mãos para que os terrestres possam herdar a terra.

Venho trazer-lhe a vontade do Criador de Tudo! Convoque seu filho Ziusudra, e a ele revele a calamidade iminente, sem romper seu juramento! Oriente para que uma embarcação seja construída, e que possa ficar submersa! Diga a ele que a construção a ser feita deve suportar uma avalanche de água.

A embarcação deve ser semelhante a esta que está nesta tabuleta que lhe apresento. Que ele salve a si e sua família! E que leve junto com ele a semente de tudo o que seja valioso, sejam plantas ou animais.

E com o estilete, Galzu desenhou uma imagem na tabuleta. Deixou a tabuleta gravada ao lado da cama de Enki. E depois que a imagem desapareceu, a visão-sonho terminou e estremecendo, Enki despertou.

A visão era enigmática, porém reveladora! Enki ficara em sua cama refletindo, com assombro. Que presságio seria este? E ao observar ao seu redor, presenciou que a tabuleta estava ao seu lado. Aquilo que havia sonhado estava materializado diante dele. Na tabuleta algumas medidas transpareciam. E eram as medidas exatas da embarcação. Imediatamente Enki enviou emissários para encontrar Galzu para que pudesse falar com ele. Entretanto, foi surpreendido! Disseram a ele que há tempos Galzu havia retornado para Nibiru. Enki estava perplexo e se esforçava para compreender tamanho mistério e presságio.

Embora não pudesse desvendar o que ocorrera, a mensagem era clara!

Assim, de forma sigilosa, naquela noite Enki se dirigiu até a cabana de juncos onde Ziusudra dormia. E em frente a cabana de juncos, Enki conversou, não com Ziusudra, mas com a parede da cabana!

Acorde! Acorde, disse Enki à parede de juncos.

Preste atenção às minhas instruções.

Uma tormenta cairá sobre a terra e varrerá todas as cidades. A humanidade e sua descendência serão todos destruídos! Essa é a decisão final! É a palavra da assembleia convocada por Enlil! A decisão está feita, e anunciada por Anu, Enlil e Ninmah. Agora, escute minhas palavras e observe a mensagem que lhe transmito! Abandone sua casa... Construa uma embarcação! Renuncie suas posses e salve a sua vida!

Cabana de juncos, preste atenção! Você tem apenas 7 dias. Construa um barco capaz de girar e sobreviver ao dilúvio. Certifique-se de que o barco esteja completamente coberto e que o sol não possa ser visto por dentro dele, seu design e medidas estão descritos em uma tabuleta. Eu a deixarei aqui, junto à parede da cabana de juncos. Lembre-se! Você tem 7 dias. Construa o barco e reúna sua família e parentes. Empilhe comida e água potável. Leve também animais domésticos. Então, no dia marcado, um sinal será dado. Enviarei um anunnaki como guia, que será designado por mim, e que conhece as águas. Ele virá até você. Nesse dia, você deve entrar no barco e fechar bem a escotilha. Um dilúvio esmagador, vindo do sul, devastará a terra e toda a vida. O barco se soltará de suas amarras, e então vai girar, e girar sob o impacto da água.

O eco da voz de Enki ainda ressoava nos ouvidos de Ziusudra quando ele foi acordado por suas palavras. Enki estava escondido atrás da cabana de juncos e falava em frente à parede. Sua mensagem era clara: uma terrível tempestade se aproximava e a destruição de toda a humanidade era iminente. Ziusudra compreendeu que era apenas sua própria semente, a salvação da humanidade. Ziusudra ficara paralisado pelo medo e caira de joelhos, implorando para ver o rosto de Enki. Mas Enki recursou. Ele houvera explicado tudo que era possível e deixara claro que Ziusudra não poderia ver seu rosto, caso contrário morreria. 

E se o povo perguntar, prosseguiu, Enki, diga que o Senhor Enlil esteve irritado com Enki, e que você irá navegar até o Abzu, para que possivelmente o Senhor Enllil se acalme!

Então houve silêncio e Ziusudra saiu da cabana de juncos, encontrando a tabuleta que Enki mencionara. Na tabuleta havia um barco desenhado, tal qual Enki descrevera. A tabuleta reluzia à luz do luar. Ziusudra retornou para a cabana, com apenas uma certeza: algo grave, de fato, aconteceria.

Na manhã seguinte Ziusudra encontrou o povo e contou que estava condenado devido a irritação de Enlil sobre Enki. Ele explicou sobre a hostilidade de Enlil e de que não poderia sequer pisar no Edin. Assim, deveria construir uma embarcação para encontrar o senhor Enki, em seus domínios no Abzu.

Diante desta notícia a cidade inteira se movimentou para auxiliar na construção de um barco. Era uma arca enorme! E o povo estava ansioso!

Todos queriam auxiliar e acompanhar a partida de Ziusudra, já que isto significaria conversar com Enki, para assim apaziguar a ira de Enlil. Desta forma, todos auxiliariam! Muitos tiraram o sustento de suas próprias bocas, para que fosse entregue a Enlil!

Enquanto uns carregavam madeiras e auxiliavam na construção, outros passavam o betume. Ziusudra chamou por todos os que tivessem desejo de rogar a proteção do senhor Enki no Abzu, orientando que eles deveriam ingressar na arca. E assim, alguns artesãos o fizeram.

E então, 6 dias passaram.

Foi quando Ninagal, o Senhor das Grandes Águas, o enviado de Enki chegou. Ele era um dos filhos do grande senhor Enki. Carregava com ele uma caixa de madeira de cedro. Ninagal contou que carregava com ele as essências e os ovos de vida de todas as espécies.

Ziusudra convidou Ninagal para entrar. A embarcação era enorme e bem equipada para suportar a tempestade iminente. Assim, Ziusudra e Ninagal aguardaram pelo 7º dia, pelo Dia do Dilúvio.

 

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Nos céus, os astros anunciavam a Era de Leão. Aquele era o centésimo vigésimo Shar. Aquele era o décimo shar de vida de Ziusudra.

E de repente uma nuvem negra surgiu no horizonte obscurecendo a luz do amanhecer.

Naquele momento, uma estranha sombra de morte cobriu a Terra. Trovões retumbaram e ecoaram por todo planeta, enquanto os relâmpagos iluminaram os céus.

Em Sippar, Utu deu o sinal: "Partam! Partam!", gritou aos demais Anunnaki. Em suas naves celestiais os deuses se ergueram em direção ao céu.

Ninagal, o anunnaki enviado por Enki, pode avistar ao longe, dezoito léguas de distância e pode ver a tormenta se aproximando. Tranquem a porta, gritou Ninagal a Ziusudra. O grito de Ninagal ecoou pelos quatro cantos de Shurubak, anunciando a chegada da maior tempestade já vista. Os céus se abriram, e das profundezas da Terra um rugido pavoroso se ouviu. Ziusudra e Ninagal, em seu barco construído às pressas, sentiam a água agitar o casco com cada vez mais violência. Era preciso fechar as comportas.

Num movimento coordenado, ambos puxaram a porta que escondia a única entrada da embarcação. A construção foi selada por completo e a escuridão tomou conta de tudo. As ondas batiam com força, mas, dentro da embarcação, não se ouvia nada além do barulho abafado do oceano.

O Dilúvio começou com um rugido ensurdecedor, e a terra toda estremeceu. Na terra branca, no fundo da Terra, as placas balançaram os alicerces e se moveram com violência. O gelo se partiu e foi arrastado pelas forças invisíveis da rede de Nibiru. Blocos enormes de gelo se chocavam, fragmentando a paisagem gélida.

De repente, uma onda gigantesca se ergueu, e o céu parecia tocar o mar. Um vento feroz se levantou, soprando as águas para o norte. As águas alcançaram as terras do Abzu. E de lá a muralha de água avançou na direção das terras habitadas do Edin.

Quando a muralha de água encontrou Shurubak, as amarras da arca se soltaram e a embarcação foi engolida pelas águas. Ziusudra e Ninagal sentiam a embarcação ser arremessada para todos os lados, como se estivessem em um abismo aquático.

Do lado de fora as muralhas de água engoliram quem não pode se abrigar. O chão se desvaneceu e havia somente água, por todos os lados. Antes que o dia pudesse terminar a muralha de água ganhou força e velocidade, dirigindo-se até as altas montanhas.

Os Anunnaki observavam a Terra enquanto circulavam em suas naves celestiais, pressionados contra as paredes externas das naves. Eles estavam ansiosos para ver o que estava acontecendo na Terra. As águas haviam coberto tudo, e o mundo que conheciam havia se transformado para sempre.

Ninmah chorava. Ela estava desesperada com o que via. Dizia que suas criaturas estavam afogadas. Inanna também chorava, lamentando que tudo na Terra havia se transformado em argila. Os Anunnaki nas outras naves observavam com humildade e admiração o poder da natureza. Alguns falavam sobre os frutos da terra. Muitos desejavam o prazer e o sabor do suco das frutas fermentadas, mas já não era mais possível. Os anunnaki consolavam uns aos outros, na certeza de que tudo que existia anteriormente estava destruído e havia se transformado em barro.

Como uma batalha mortal, a tempestade varreu as pessoas, as montanhas e todas as terras, com uma velocidade avassaladora. Após a enorme onda que varreu o planeta, as comportas do céu se abriram e uma chuva torrencial inundou a Terra por quarenta dias e quarenta noites. Os picos das grandes montanhas haviam se tornado pequenas ilhas no imenso mar que o planeta havia se transformado.

A inundação seguida da chuva torrencial modificara todas as paisagens do planeta e transformara tudo em um grande planeta aquoso, que lembrava a antiga Tiamat.

Entretanto, no transcorrer dos dias a água começou a baixar pouco a pouco. Como no Princípio as águas uniram suas bacias. E quarenta dias após o início do Dilúvio a chuva também cessou. Apenas a embarcação de Ziusudra, construída sob a orientação de Enki, sobrevivera. Ziusudra abriu a escotilha e pode ver a luz do sol. Sentia uma brisa leve em seu rosto. Descobriu que a água havia recuado e que agora estava à deriva em um vasto e infinito oceano. Ziusudra observou a destruição e lamentou a perda de toda a humanidade e de todas as outras formas de vida. Ziusudra disse: Ninguém sobreviveu, além de nós. Mas ainda não há terra firme por onde possamos andar!

Ninagal, o anunnnaki indicado por Enki, guiou a embarcação em direção às montanhas gêmeas de Arrata, onde Ziusudra esperava encontrar terra firme. Impaciente, Ziusudra soltou pássaros para verificar se havia algum sinal de vida e terra firme. Primeiro, ele soltou uma andorinha, depois um corvo, mas ambos retornaram ao barco. Finalmente, ele soltou uma pomba, que retornou com um ramo de oliveira em seu bico. Ziusudra havia descoberto! Havia terra firme nas proximidades. Assim, poucos dias depois, a embarcação se fixou a uma das rochas.

Ziusudra abriu a porta impenetrável da embarcação e saiu. Mais uma vez sentiu a brisa leve e pode ver o sol. Com pressa chamou por sua esposa Emzara e os seus filhos.

Ziusudra, então, agradeceu ao Senhor Enki por sua sobrevivência. E com algumas pedras construiu um altar para lhe oferecer um sacrifício. Escolheu uma ovelha e acendeu o fogo. E sobre o altar, fez sua oferta a Enki, seu Senhor.

Naquele tempo, nos céus e ao abrigo de suas naves celestiais, os anunnaki observavam as águas que baixavam pouco a pouco. Enlil olhou para Enki e disse: vamos fazer uso das pequenas naves para descer sobre o pico de Arrata. Vamos observar de perto, vamos revisar o que aconteceu e o que tem de ser feito.

Assim, Enki e Enlil desceram no Pico de Arrata, enquanto outros anunnaki, à bordo das outras naves celestiais seguiam circundando a Terra. Ao descer em terra firme os irmãos se olharam e se cumprimentaram.

Foi quando o cheiro do sacrifício de Ziusudra se fez sentir.

O que é isso? Questionou Enlil. Que cheiro é este? De onde vem o fogo? Que cheiro de carne assada? Alguém sobreviveu ao dilúvio? Enlil estava furioso. Olhava fixamente para Enki, com muita raiva.

De forma sutil Enki lhe respondeu. Vamos até onde o cheiro nos leve e vamos descobrir o que aconteceu. Então os irmãos entraram novamente nas naves menores.

Sobrevoaram o pico de Arrata e então puderam ver a embarcação de Ziusudra. Aterrissaram suas naves ao lado da grande arca. Ziusudra, Emzara, seus filhos e os outros sobreviventes puderam ser vistos, assim como Ninagal, filho de Enki.

Foi quando Enlil teve outro acesso de raiva e sua fúria não encontrou mais limites.

Enlil atirou-se para cima de Enki. Ele estava disposto a matar o irmão com suas próprias mãos.

Foi quando Enki lhe revelou o maior dos segredos!

Ele não é um simples mortal. Ele é... meu filho, gritara Enki, apontando na direção de Ziusudra.

Por um breve momento Enlil duvidou do Enki havia dito. E em seguida acusou. Você rompeu com o seu juramento.

Não, disse Enki. Eu falei com uma parede de juncos. Nada disse a Ziusudra de forma direta.

E eu só fiz isto por causa de uma visão-sonho.

Assim, Enki relatou a Enlil a visão sonho que tivera e o que Galzu, o emissário do criador de tudo, havia lhe dito.

Ninagal, filho de Enki, chamou pelos demais anunnaki que também ouviram o relato dos acontecimentos. Ninurta e Ninmah, ao ouvir sobre o ocorrido, não sentiram raiva.

Ninurta disse que a sobrevivência da humanidade era a vontade do Criador de tudo. E disse isto, a seu pai Enlil.

Ninmah, por sua vez, jurou que nunca mais permitiria a destruição da humanidade. E disse estas mesmas palavras tocando seu colar de cristais, um presente de seu pai, Anu. Depois, completou. Por meu juramento, a aniquilação da humanidade jamais irá se repetir.

Enlil abrandou seu coração. Ele percebera que a sobrevivência da humanidade era inevitável.

Então, se aproximou de forma branda e pacífica de Ziusudra e Emzara, sua esposa. E os abençoou, dizendo: frutifiquem e multipliquem. E assim, povoem a Terra.

 

Assim, a paz fora selada entre os anunnaki e os terrestres. Desta forma, os clãs de Enki e Enlil haviam chegado a uma conclusão. Ziusudra e sua família sobreviveram na arca, cuja construção havia sido guiada por Enki, em uma visão-sonho em contato direto com uma mensagem do criador de tudo.

Endubsar, o escriba mestre, tudo registrava, em todas as tabuletas, da forma como Enki lhe relatava. O grande deus havia lhe dito que aquele era o fim dos Tempos Antigos. Os tempos antigos haviam se iniciado com o primeiro pouso e se encerravam com o fim do dilúvio.

Mas Enki deixara claro a Endubsar que a décima tabuleta ainda prosseguiria com o relato da reconstrução da Terra, com a descoberta de uma nova fonte de ouro e com a construção de gigantescas estruturas que mais tarde seriam chamadas de pirâmides. Embora estes acontecimentos fossem comemorados, e trouxessem alívio, novos problemas aconteceriam e os clãs de Enki e Enlil entrariam em guerras e disputas. Ao fim, todos os acontecimentos resultariam no uso das armas de terror e uma enorme devastação.

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